terça-feira, 1 de outubro de 2024

85 anos de morto

 O morto faz 85 anos e persiste em estar morto, que é como quem diz, aparentando estar morto. Ou como se diz nas coisas do Direito: estar formalmente morto. A verdade é que já nem se pode visitar a campa: cremaram o morto. Ao que chegámos: agora, eu e o L., já não temos por que ir aos Prazeres. Uma campa, mesmo que de terra castanha, sempre marcava um lugar, onde pudéssemos estar de pé, a pensar no morto. Mas hoje não é dia de lamúrias, para mais por um morto que, na verdade, está vivo. Hoje celebramos o morto. 85 anos de morto, dos quais, boa parte esteve formalmente vivo. O resto tem sido nas nossas costas e horizonte e não nos tem pesado nada. Parabéns.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

75

 eomeupaieoprofessorhorácioeozémaneleoshomenstodoosqueenterreicarregadossobreosombroseaspernassemnuncafalhar.aúltimaforçahadeserparaospousareoutrosqueolevem.filhos,estãoouvindo?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Cremaram o morto

Chegámos e o morto não estava lá. Todos os anos (menos um, don't ask), ao longo de 15 anos lá estivemos, naquela encosta do cemitério, a olhar o rio ao fundo e uma campa em baixo, para neste dia evocar o morto. Como se apenas neste dia reconhecêssemos que o morto havia morrido como todos os outros mortos. Mas até essa fugidia tentativa de normalidade nos foi roubada. E bem, e bem. Chegados à secção n.º 7 apenas um  extenso relvado. Descampado. Subimos, rumo à secretaria, onde afinal, desembocam todos os problemas do mundo. Apresentámos o número de registo do morto e lá nos foi dito que o haviam cremado a 9 de outubro de 2023. E nós ali agora. "Foi a pedido da Senhora D. Ângela". Quem será? Haviam cremado o morto sem que soubéssemos. Nem tínhamos de saber. Valeu o passeio, o morto haveria de apreciar. Faremos o elogio da normalidade da morte noutro sítio a partir de agora. Nós que tínhamos almoçado no Limbo, ali ao lado.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Saudades

 Tantas, Zé Manel, tantas. 


Têm aumentado as minhas conversas contigo. Mas os longos silêncios no lugar das respostas começam a pesar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

82 anos

 o morto faz 82 anos. Incrível como já morreu há 12 anos e continua a celebrar aniversários com grande precisão. Para mais num dia tão incrível como 1 de Outubro. Parabéns, também por isso, ao morto.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

The Self

The poem
is a discipline
What you need
to sober you
is what you have
 
Your children 
Let them
children
teach you
 
the peach flower
the grape
globular locks
curling pathetically about
the temples
their eyes
their rosy cheeks
the poem laid crudely
delicately
before you.


Obrigado, William Carlos Williams

sábado, 15 de fevereiro de 2020

O Liceu

Zé Manel, voltei lá.

A D. Maria já não existe e a entrada principal parece de uma penitenciária ou assim. Mas ainda é o nosso Liceu depois destes sustos. Deixei-me levar pela procura dos nomes dos pavilhões. E quando cheguei ao A3 podia ver-te à janela a olhar-me e eu gritar-te que tinha entrado para História.

E olha bem para nós agora.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

sábado, 5 de outubro de 2019

Tolentino cardeal? Tolentino poeta

Por mais que suba na hierarquia da Igreja Católica (e, sabe Deus como gostaria de vê-lo Papa), Tolentino para mim será sempre o poeta. Descoberto por mim nos Baldios nunca mais parei de o acompanhar. Tudo o que escreve tem em mim o efeito de uma reflexão, algo tem um valor incalculável. Das várias vezes em que me fui cruzando com ele na vida, em blogs, velórios, almoços e lançamentos de livros, sempre um pouco de conversa luminosa se proporcionou. Sabe-lo cardeal porventura traz a promessa de que mais poderão beneficiar dessa luminosa promessa de reflexão, mas se o poeta não se perder serão mais ainda e a luz mais cambiante. Que viva Tolentino poeta.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

80 anos de morto

Há 80 anos nascia o morto. Mais uma boa razão para ter Outubro como o melhor dos meses. Parabéns.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Aqueles longos almoços

Aqueles longos almoços no Alentejo
pela tarde fora
sobre o quintal e a planície
com o vinho que nunca finda
e a música sem dúvida, Cat Power creio

Aquelas longas promessas de amor
entre os nossos olhares
mesmo se nos amamos há décadas
com casa, filhos e tudo
por entre as vinhas e as oliveiras

Aquele tempo demorado
sem censuras nem tormentas
só o encadeado perfeito das horas
entre uma cachaça de Minas
e um café de São Tomé
o nosso Alentejo um consulado
de tudo o que amamos
e o nosso amor envolto em lembranças
dos lugares onde se construiu

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Meu avô

Meu avô plantou estas folhas
meu pai tratou delas tanto
esta tisana agora eu bebo
de lúcia-lima perfumada
e é meu dever sorrir
além de sorrir querer
por esta felicidade cheia de mortos
e paixões arrumadas

domingo, 17 de fevereiro de 2019

"Não abras a porta a estranhos" de Maria Sousa

No próximo dia 23 de fevereiro será lançado o terceiro livro de poemas da Maria Sousa. A Maria é uma das minhas poetas/poetisas preferidas e tenho a sorte de ser amigo dela.

O terceiro livro de poemas da Maria tem como título "Não abras a porta a estranhos" e nele, para quem vem acompanhando a poesia da Maria, sentimo-nos como a Alice ao cair pelo tronco da árvore. A metáfora é tanto mais certeira quanto ser Maria neste livro o Coelho Branco e nós leitores aqueles que a seguimos. Mas ao invés de não ter tempo a Maria parece ter todo o tempo do mundo. O tempo da demora que funde passado, presente e futuro. Ela escreve de um local onde o tempo nos é recordado dolorosamente da sua relatividade.

Ao terceiro livro de poemas a Maria Sousa confirma-se como uma poetisa a quem pode reconhecer-se sem qualquer exagero ou impropriedade a autoria de um longo poema contínuo. A casa é o seu país mas em vez de maravilhas encontramos uma longa solidão. Ambas são neste terceiro livro explicitamente assumidas por intermédio de epígrafes iniciais (e iniciáticas) de Rui Nunes - "Só há um lugar para a solidão de cada um. O meu é esta casa" e de Raquel Nobre Guerra - "Porta no trinco e nada nas mãos. Há muito que é tudo o que resta". 

Esta assunção do mundo de Maria talvez seja uma das explicações para neste seu terceiro livro de poemas haver um refinamento e uma coesão não vista nos livros anteriores. E daí referir-me a um longo poema contínuo que é não só este livro como toda a sua obra publicada vista a partir deste "Não abras a porta a estranhos".

Praticamente todos os poemas deste terceiro livro fazem da casa a sua metáfora, quer através dos seus materiais, da sua realidade física, quer através das emoções que evocam. Encontramos a casa através das suas portas (pág. 9, 14, 17, 26, 31, 33, 41, 42) e janelas (pág. 24, 30, 31, 40), das suas paredes (pág. 10, 37), dos seus armários (pág. 11), dos corredores (pág. 20) e quartos (pág. 19, 40), mas também através do seu passado, (pág. 12, 13, 18, 23, 29) s seus silêncios (pág. 9, 11, 24, 30, 32, 33, 42) e da sua escuridão (pág. 15), das suas noites (pág. 12, 30, 37, 41)  da sua solidão (pág. 9, 13, 19), das suas mortes (pág. 10), da ausência e do vazio (pág. 10, 16, 17, 19, 21, 22, 32, 39), das suas memórias (pág. 11, 12, 18, 35, 42).

Não estamos aqui perante uma coleção de vocábulos. Se os enumero é para sentirmos o seu peso, a sua cadência e para percebermos como cada poema tem a força dupla do que diz por si e da longa toada em que se insere 

a manhã nasce sempre da ausência
e rodeada de um silêncio tão vazio

faço uma lista de todas as minhas mortes

Versos como estes surgem assim fortíssimos, como uma bala à queima-roupa, que nos deixa em choque, até aos próximos versos, ao próximo poema, sem noção do ferimento que tomámos, do mundo em que entrámos

há uma porta que ninguém abre
uma máquina de inventar vozes

e tu vives na solidão até
as lágrimas te cortarem a voz

Assim, continuamos, de forma quase hipnótica, na casa-mundo de Maria.

Esta ubiquidade das palavras que constituem os materiais e as emoções da casa acaba por criar uma estrutura que se estende mesmo para lá das palavras e cujo espírito perpassa de poemas para poemas. Mesmo sem as referir num ou noutro poema, passamos a habitar a casa de Maria Sousa e mesmo que ela não escreva portas ou paredes, passado ou vazio, nós estamos irremediavalmente confinados à sua casa, com as suas portas e paredes, o seu passado e o seu vazio. Esta presença fortíssima, que podia tornar-se pesada é subitamente temperada pela presença dos objetos que Maria faz pontuar e aparecer pela narração da sua casa, os cigarros, as cartas, o telefone, o espelho, os relógios. Estes objetos tornam-se as pistas para conseguirmos olhar para além da estrutura contínua do livro de Maria e para entrevermos os matizes que ela nos dá.

Ao terceiro ensaio de Maria Sousa sobre a experiência da solidão e da ausência como uma casa - ou de uma casa como solidão e ausência - a prática fez uma forma de perfeição, mas também de encantamento (ou maldição). É difícil entrar na casa de Maria sem que procuremos (queiramos?) sentir-nos como aquela voz, para melhor vermos as portas e as paredes, os corredores, o passado e a noite, como aqui nos são trazidos. Não sei se será para salvarmos essa voz ou para nos perdermos com ela. Os encantamentos são assim mesmo, perigosos na sua beleza.

mas nem mesmo o abandono tem palavras que me façam sair

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Um jazigo

Tornou-se este blog um jazigo dos meus homens? Pode, à vista desarmada, parecer que sim. Mas arme-se a vista da mais rigorosa luz e perceber-se-á que a morte mais não é do que uma definição extrema dos contornos da vida.

70 anos de Pai

O pai faz hoje 70 anos. É certo que fará dois anos no dia 22 de março que morreu. São por isso 70 anos completados em ausência física. Mas apenas do seu corpo. No meu as saudades fazem-no bem presente. Parabéns pois a estes 70 anos e não discriminemos o pai por não estar por si no mundo dos vivos. Afinal estou cá eu para celebrá-lo. À tua.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O morto faz 10 anos

O morto faz dez anos. Impossível! diz uma voz dentro da minha cabeça. Mas a memória não mente e a lápide comprova: 2009.01.10.

E por isso lá fomos, eu e o L., até à campa marcar presença, saudar o morto, conversar com ele, que é como quem diz, com a terra, o mármore, os bichos, pois o morto deve andar por aí a passear.

Mais logo, uma vez que dez anos sempre é uma década, eu e o L. vamos celebrar o morto através de um dos seus mortos preferidos. Vamos à Cinemateca ver a Viagem ao Princípio do Mundo, do Manoel de Oliveira. O último filme de Mastroianni. E com as Leonor Silveira, claro. O morto fica contente. Mesmo na sendo a Francisca.

O morto, talvez por completar uma data redonda, expressão que nunca compreendi, tem aparecido mais. Pode ser simplesmente porque lhe cheira a casa nova e quer garantir um bom lugar. De todo o modo fico contente. Lá porque está morto não deve deixar de aparecer. Bem pelo contrário.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Mixtape 2

A Editora Maravilha, também conhecida como Do Lado Esquerdo, a Maria e o Nuno voltam a um lugar onde já fomos todos felizes e lançam uma nova Mixtape, com esse nome arrojado e radical, Mixtape 2. Não vale a pena complicar.

Vai ser no próximo sábado dia 24 de novembro, na nova Cossoul, que agora está na minha querida rua nova da Piedade, ali em Lisboa, de quem desce da Praça das Flores.


E eu vou lá estar com os meus poemas Firmamento e Parede Azul.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

100 anos

O meu amigo faz 100 anos. Atendem o telefone por ele e é uma voz sumida que me fala. Muito mais sumida do que no ano passado. Enfim, há de haver alguma diferença entre 99 e 100. 
Nunca tive um amigo a fazer 100 anos. É uma novidade. O morto, como se sabe, morreu quase a fazer 70. E mesmo permanecendo sempre presente, ainda agora dia 1 de outubro, só fez 79. 
Cem anos é coisa diferente. O meu amigo ainda nasceu antes da ditadura, meteu-a no bolso, e ainda por cá anda volvidos quarenta anos de democracia. Isto para termos uma escala. 
Conheci-o a vê-lo beber um copo de whisky com o meu pai ao fim do dia, lá em casa. Depois começámos a jogar xadrez. Ele homem feito e eu uma criança. Começávamos juntos e continuávamos pelo telefone. Ligávamos a dizer as jogadas. Mais tarde foi ele quem me deu o primeiro Saramago e tantos outros depois.
Mas a voz estava realmente sumida. E pela primeira vez pensei se para o ano lhe conseguirei dar os parabéns.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Mezzanine XXI

Eu tinha 21 anos quando a 10 de novembro de 1998 os Massive Attack atuaram no então Pavilhão Atlântico com o álbum Mezzanine, mas mais importante para mim, amante de Elizabeth Fraser, fã antigo de Cocteau Twins e obcecado com o single Teardrop, acompanhados pela voz de Deus (como um dia chamaram - certeiramente - a Liz Fraser). Se o álbum ainda hoje é dos meus álbuns preferidos (estou a ouvi-lo neste momento) o concerto correu muito mal: a acústica era péssima, a voz de Deus soou como uma voz banal e eu estava transtornado e infeliz como só um jovem adulto consegue estar, sem profundidade de campo e com o mundo à flor da pele, sem ainda ter percebido que a felicidade é mais fácil do que parece.

Por isso esse concerto sempre me ficou atravessado no goto da alma e o que espero do próximo dia 18 de fevereiro de 2019 é nada menos do que um ajuste de contas histórico com o ano de 1998, com o eu desse tempo e com a voz de Deus, mesmo se a voz de Deus envelheceu, porque a voz de Deus é intemporal, pois é de Deus. Nesse dia os Massive Attack voltam a Lisboa, não ao Pavilhão Atlântico, que de resto só sobra como Altice Arena, mas ao Campo Pequeno; não trazem o Mezzanine, mas o MezzanineXXI, uma reinvenção do álbum de 1998. E trazem Elizabeth Fraser. Liz Fraser. A voz de Deus. Meus deus, meu deus. 

Não espero nada menos do que um ajuste de contas histórico com tudo o que devia ter sido aquele concerto, porque entretanto passei 20 anos a colocar-me no estado de espírito certo para merecer uma boa acústica, um belo álbum e.... vocês sabem.

Deixo-vos com um dos meus dois poemas que foram publicados na compilação Mix Tape, da Do Lado Esquerdo, 2013:

Este amor

This Love - Craig Armstrong feat. Elizabeth Fraser

Talvez se possa morrer muitas vezes, dizes
Em vez de se ir morrendo aos poucos, até 
à morte.

Cada vez que trocamos de amor, dizes,
Senão morremos, matamos um pouco.
E cada vez que __________________
atraiçoamos aquele velho princípio, em 
nome de uma necessidade urgente, 
morremos, certamente.
Dizes.

Tens razão. Este nosso amor mata-nos
a cada final de dia, pois, para nós,
já não há dias nem noites. Apenas 
um longo dia contínuo. Amamo-nos,
por isso, entre todas as mortes,
entre todas as traições, entre todas
as mudanças. Este amor, não
significa nada. Este estranho amor
morre muitas vezes. E renasce,
estranhamente, sem porquê.

Como um longo dia contínuo.


domingo, 28 de outubro de 2018

Um ano de Oxalá

Passou um ano desde o lançamento do Oxalá, com a editora maravilha Do Lado Esquerdo. Deixo-vos um poema desse livro.


#35 A propósito de ervas daninhas


“to recognize others fully as persons requires a conception of oneself as identical with a particular, impersonally specifiable inhabitant of the world, among others of a similar nature”

Thomas Nagel, The Possibility of Altruism


   

Quero poder dizer de mim o que posso dizer de ti
Por exemplo
as minhas mãos estão prontas a mondar os canteiros
da casa grande
como as tuas mãos estão prontas a mondar os canteiros 
da casa grande
Entre as minhas e as tuas mãos não há 
_________________________________________________a propósito de ervas daninhas
qualquer distinção

Mesmo nomeando
todas as diferenças entre as nossas mãos
elas continuarão a mondar 
as ervas daninhas para 
da terra fazer surgir
a perfumada lúcia-lima

E assim posso dizer de mim o que posso dizer de ti
Outro exemplo
as minhas mãos a preparar as folhas
a colocá-las de lado secando
e as tuas mãos também tendo isso feito
colocando a chaleira ao lume a levantar fervura

Não há diferença entre as nossas mãos
que colocam no bule a água e na água as folhas
da perfumada lúcia-lima

Vejo-te como és porque 
deixo de olhar-te
desde mim e olho-te 
como as ervas daninhas 
e a lúcia-lima
nos olham.



sábado, 13 de outubro de 2018

Seis números de crónicas ébrias

A brincar, a brincar levo meia dúzia de crónicas ébrias para a revista Bica. E todos sabemos a importância da bica pingada na cultura portuguesa. 

Tem sido um verdadeiro prazer. Sempre com prazos apertados, como gosto e tem de ser, apesar da revista ser trimestral. Sempre com temas interessantes para me estimular e um editor que é uma pessoa boa, além de um excelente editor. 

No último número, o quinto, do Verão de 2018, escrevi sobre a sazonalidade da bebida e no próximo escreverei sobre um tema relevante para Portugal: a aguardente. Sai no início de Dezembro.





sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Alice Oswald

Just because.



She could be any woman at all,
caught off-guard on-guard.
With her hands stroking or strangling and maybe
with her intentions half interred.
But she is as she is. Her foot is always
filing away at its cord.
And what she's really after
is to wander.

from Rambling Rose, Alice Oswald.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

79 anos

O morto faz anos. E logo no primeiro dia do meu mês preferido. Sempre assim foi. Quando o conheci já ele fazia anos no dia 1 de outubro. Uma maravilha.
Este é o último aniversário do morto antes de fazer dez anos que morreu. E logo depois fará 80 anos. O acaso e a matemática têm destas coisas.
O morto tem aparecido menos. Mas melhor. Nisso está como eu. Eu próprio me tenho aparecido menos, mas, perdoem-me a imodéstia, melhor. Estou mais focado. O morto faz 79 anos e mesmo morto continua a ensinar-me tanto. Já as saudades e a falta que me faz ficam para o aniversário da sua morte.