Eu tinha 21 anos quando a 10 de novembro de 1998 os Massive Attack atuaram no então Pavilhão Atlântico com o álbum Mezzanine, mas mais importante para mim, amante de Elizabeth Fraser, fã antigo de Cocteau Twins e obcecado com o single Teardrop, acompanhados pela voz de Deus (como um dia chamaram - certeiramente - a Liz Fraser). Se o álbum ainda hoje é dos meus álbuns preferidos (estou a ouvi-lo neste momento) o concerto correu muito mal: a acústica era péssima, a voz de Deus soou como uma voz banal e eu estava transtornado e infeliz como só um jovem adulto consegue estar, sem profundidade de campo e com o mundo à flor da pele, sem ainda ter percebido que a felicidade é mais fácil do que parece.
Por isso esse concerto sempre me ficou atravessado no goto da alma e o que espero do próximo dia 18 de fevereiro de 2019 é nada menos do que um ajuste de contas histórico com o ano de 1998, com o eu desse tempo e com a voz de Deus, mesmo se a voz de Deus envelheceu, porque a voz de Deus é intemporal, pois é de Deus. Nesse dia os Massive Attack voltam a Lisboa, não ao Pavilhão Atlântico, que de resto só sobra como Altice Arena, mas ao Campo Pequeno; não trazem o Mezzanine, mas o MezzanineXXI, uma reinvenção do álbum de 1998. E trazem Elizabeth Fraser. Liz Fraser. A voz de Deus. Meus deus, meu deus.
Não espero nada menos do que um ajuste de contas histórico com tudo o que devia ter sido aquele concerto, porque entretanto passei 20 anos a colocar-me no estado de espírito certo para merecer uma boa acústica, um belo álbum e.... vocês sabem.
Deixo-vos com um dos meus dois poemas que foram publicados na compilação Mix Tape, da Do Lado Esquerdo, 2013:
Este amor
This Love - Craig Armstrong feat. Elizabeth Fraser
Talvez se possa morrer muitas vezes, dizes
Em vez de se ir morrendo aos poucos, até
à morte.
Cada vez que trocamos de amor, dizes,
Senão morremos, matamos um pouco.
E cada vez que __________________
atraiçoamos aquele velho princípio, em
nome de uma necessidade urgente,
morremos, certamente.
Dizes.
Tens razão. Este nosso amor mata-nos
a cada final de dia, pois, para nós,
já não há dias nem noites. Apenas
um longo dia contínuo. Amamo-nos,
por isso, entre todas as mortes,
entre todas as traições, entre todas
as mudanças. Este amor, não
significa nada. Este estranho amor
morre muitas vezes. E renasce,
estranhamente, sem porquê.
Como um longo dia contínuo.
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