Chegámos e o morto não estava lá. Todos os anos (menos um, don't ask), ao longo de 15 anos lá estivemos, naquela encosta do cemitério, a olhar o rio ao fundo e uma campa em baixo, para neste dia evocar o morto. Como se apenas neste dia reconhecêssemos que o morto havia morrido como todos os outros mortos. Mas até essa fugidia tentativa de normalidade nos foi roubada. E bem, e bem. Chegados à secção n.º 7 apenas um extenso relvado. Descampado. Subimos, rumo à secretaria, onde afinal, desembocam todos os problemas do mundo. Apresentámos o número de registo do morto e lá nos foi dito que o haviam cremado a 9 de outubro de 2023. E nós ali agora. "Foi a pedido da Senhora D. Ângela". Quem será? Haviam cremado o morto sem que soubéssemos. Nem tínhamos de saber. Valeu o passeio, o morto haveria de apreciar. Faremos o elogio da normalidade da morte noutro sítio a partir de agora. Nós que tínhamos almoçado no Limbo, ali ao lado.
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