terça-feira, 23 de janeiro de 2024

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 eomeupaieoprofessorhorácioeozémaneleoshomenstodoosqueenterreicarregadossobreosombroseaspernassemnuncafalhar.aúltimaforçahadeserparaospousareoutrosqueolevem.filhos,estãoouvindo?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Cremaram o morto

Chegámos e o morto não estava lá. Todos os anos (menos um, don't ask), ao longo de 15 anos lá estivemos, naquela encosta do cemitério, a olhar o rio ao fundo e uma campa em baixo, para neste dia evocar o morto. Como se apenas neste dia reconhecêssemos que o morto havia morrido como todos os outros mortos. Mas até essa fugidia tentativa de normalidade nos foi roubada. E bem, e bem. Chegados à secção n.º 7 apenas um  extenso relvado. Descampado. Subimos, rumo à secretaria, onde afinal, desembocam todos os problemas do mundo. Apresentámos o número de registo do morto e lá nos foi dito que o haviam cremado a 9 de outubro de 2023. E nós ali agora. "Foi a pedido da Senhora D. Ângela". Quem será? Haviam cremado o morto sem que soubéssemos. Nem tínhamos de saber. Valeu o passeio, o morto haveria de apreciar. Faremos o elogio da normalidade da morte noutro sítio a partir de agora. Nós que tínhamos almoçado no Limbo, ali ao lado.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Saudades

 Tantas, Zé Manel, tantas. 


Têm aumentado as minhas conversas contigo. Mas os longos silêncios no lugar das respostas começam a pesar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

82 anos

 o morto faz 82 anos. Incrível como já morreu há 12 anos e continua a celebrar aniversários com grande precisão. Para mais num dia tão incrível como 1 de Outubro. Parabéns, também por isso, ao morto.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

The Self

The poem
is a discipline
What you need
to sober you
is what you have
 
Your children 
Let them
children
teach you
 
the peach flower
the grape
globular locks
curling pathetically about
the temples
their eyes
their rosy cheeks
the poem laid crudely
delicately
before you.


Obrigado, William Carlos Williams

sábado, 15 de fevereiro de 2020

O Liceu

Zé Manel, voltei lá.

A D. Maria já não existe e a entrada principal parece de uma penitenciária ou assim. Mas ainda é o nosso Liceu depois destes sustos. Deixei-me levar pela procura dos nomes dos pavilhões. E quando cheguei ao A3 podia ver-te à janela a olhar-me e eu gritar-te que tinha entrado para História.

E olha bem para nós agora.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

sábado, 5 de outubro de 2019

Tolentino cardeal? Tolentino poeta

Por mais que suba na hierarquia da Igreja Católica (e, sabe Deus como gostaria de vê-lo Papa), Tolentino para mim será sempre o poeta. Descoberto por mim nos Baldios nunca mais parei de o acompanhar. Tudo o que escreve tem em mim o efeito de uma reflexão, algo tem um valor incalculável. Das várias vezes em que me fui cruzando com ele na vida, em blogs, velórios, almoços e lançamentos de livros, sempre um pouco de conversa luminosa se proporcionou. Sabe-lo cardeal porventura traz a promessa de que mais poderão beneficiar dessa luminosa promessa de reflexão, mas se o poeta não se perder serão mais ainda e a luz mais cambiante. Que viva Tolentino poeta.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

80 anos de morto

Há 80 anos nascia o morto. Mais uma boa razão para ter Outubro como o melhor dos meses. Parabéns.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Aqueles longos almoços

Aqueles longos almoços no Alentejo
pela tarde fora
sobre o quintal e a planície
com o vinho que nunca finda
e a música sem dúvida, Cat Power creio

Aquelas longas promessas de amor
entre os nossos olhares
mesmo se nos amamos há décadas
com casa, filhos e tudo
por entre as vinhas e as oliveiras

Aquele tempo demorado
sem censuras nem tormentas
só o encadeado perfeito das horas
entre uma cachaça de Minas
e um café de São Tomé
o nosso Alentejo um consulado
de tudo o que amamos
e o nosso amor envolto em lembranças
dos lugares onde se construiu