sábado, 4 de outubro de 2003

As relações solitárias e temerárias



As relações humanas íntimas podem olhar-se à luz das combinações possíveis entre solitários e temerários.



Assim, a relação entre dois solitários é em geral um relação entre duas pessoas independentes em que o emocional se conjuga num plano invisível e profundo, longe das percepções exteriores num mundo próprio em que tudo se funde e refunde. Aqui o espaço é fundamental, pois dois solitários estarão sempre em busca de saciar a fome do momento para oferecer ao Outro, o despontar da assimilação do mundo. Oferecendo-o, assim.



Um relação entre dois temerários é como um sonho. Declinam-se um sobre o outro e apoiam as suas ilusões nas imagens que têm um do outro. Há sempre muito de subentendido entre eles mas há também o perigo da auto-ilusão, uma vez que a imperfeição do auto-conhecimento acarreta alguma propensão para a auto-ilusão. É sobretudo uma relação que contribuirá, corra bem ou corra mal, para o auto-conhecimento e redunda o mais das vezes em amizade.



Finalmente a relação solitário/temerário é a mais difícil mas também a mais recompensadora. Difícil pois implica muita compreensão entre os dois caminhos que se entrecruzam e muito respeito pelo outro. Muita fé no que se está a viver, para conseguir olhar para além do dia-a-dia e ver algo de maravilhoso no dia que vem. Se isso é conseguido obtém-se uma paz que ambos procuram e que faz diluir a diferença entre solitário e temerário.

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