terça-feira, 28 de maio de 2013

Feira do Livro de Lisboa: a reconciliação

Zé Manel,

talvez nunca te tenha chegado a dizer, mas tinha-me desavindo com a Feira do Livro. Culpa minha, claro. Há anos que não a visitava, ou a visitava sem alma, sem convicção, acompanhando outros, mais do que a mim. Como aconteceu isto, perguntas. Vejo duas razões.

Em primeiro lugar, a Amazon. É tudo tão mais barato. O que significa que podendo ler em castelhano, francês, italiano, inglês e alemão, para quê pagar o dobro ou o triplo por uma tradução? Certamente, restam muitas outras línguas, para as quais preciso de traduções, mas mesmo aí porque confiarei mais na tradução portuguesa, ainda por cima mais cara, do que na tradução inglesa ou francesa, línguas em que estou confortável? Há excepções. Excepções em que escolho racionalmente pagar mais por achar ganhar com isso. Por exemplo, tenho apenas um Eco no original porque gosto muito do nosso tradutor dele.

De modo que dei por mim a fazer desaparecer boa parte da Feira do Livro. Às tantas tornou-se penoso porque tinha a app da Amazon no telemóvel e podia mesmo confirmar in loco o preço de um livro que me interessava (metade do preço, em regra).

Restam os portugueses, claro. E eis que chega a segunda razão. À parte a poesia, eu leio hoje pouca ficção, o que limita o que de originalmente português posso comprar. Somos um país pequeno, não há grande volta a dar.

Dito tudo isto, este ano reconciliei-me com a feira e em boa parte por tua causa. Decidido a apenas comprar livros de autores portugueses, as minhas escolhas foram sendo moldadas pela tua memória e pelas nossas conversas.

Comprei um livro que me parece fascinante, Os Cinemas de Lisboa, de Margarida Acciaiuoli (Bizâncio), e claro que tu estavas por todos o lado, enquanto o folheava. Mas não só. Comprei uma espécie de auto-biografia do António Osório, O Concerto Interior, Assírio & Alvim. E, finalmente, achei que tinha que comprar os dois primeiros romances do Lobo Antunes (D.Quixote), porque, enfim, porque te devia isso. Já estão ali na estante. Mas não sei quando os vou ler. A ficção é o que mais está adiado na minha vida.

Ainda comprei mais umas coisa, mas, essencialmente, foi isto.

Um abraço.


1 comentário:

  1. The thing is: it's really far from being fictional.

    P.S: Recomendo muito a sério o D'este viver neste papel descripto("Cartas da Guerra")antes dos Cus de Judas. Trust me.

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