sábado, 19 de fevereiro de 2011

Três poemas tristes

(porque parece que é para isso que serve a poesia)

O Cigano

A vida arremessa seixos ao cigano.
Não cortam mas ferem.
São invisíveis as suas dores.
Por isso, ele só se contorce por dentro.
Por fora, dobra-se um pouco e
fuma o seu cigarro.
As pancadas amolecem-no. E
hoje é até capaz de chorar, se
lhe pagarem um copo e perguntarem
pela vida. Contudo, não nos
enganemos: apenas a terra o comove.
Porque é da terra que ela veio e
é pela terra que ela vai.

**

Dançamos, não podendo

Dançamos pela chuva, ao favor
do carro, que nos leva tranquilos
de bar em bar. A espera,
à porta, deixa-nos respirar o ar
molhado e pensamos um pouco melhor
no que queremos: ver pessoas,
circular. Beber um copo.

Mas se dançamos pela chuva,
de bar em bar, as paragens
tornam-se descansos e apenas
bebemos para molhar a conversa.
E conversamos molhados enquanto
secamos ao som da música.

A tranquilidade aninha-se, então
melhor nas nossas peles, falamos
mais próximos. E percebemos
a conversa trôpega e cansada
como barragem da noite
aos afluentes da dor.

Uma espécie de resistência
contra a fatiga de
tanto sentir, não podendo.

**

Estes dias também não ajudam

Estes dias também não ajudam.
Choro com a chuva e nem o percebo,
o frio faz-me procurar o teu corpo
mas o teu corpo já não é o mesmo
(eu sei ver por dentro da carne).
A escuridão corrói a minha pele
como se o Verão nunca mais
viesse. E mesmo as noites serem
mais longas só serve o maior
tempo que tenho para aceitar
que te perdi.

2 comentários:

  1. Eu danço sempre. Podendo ou não podendo. Chorando ou rindo, ou rindo, chorando.
    Eu danço sempre, sempre.
    Com os pés no chão ou a cabeça de encontro ao céu. Sempre.

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