O Cigano
A vida arremessa seixos ao cigano.
Não cortam mas ferem.
São invisíveis as suas dores.
Por isso, ele só se contorce por dentro.
Por fora, dobra-se um pouco e
fuma o seu cigarro.
As pancadas amolecem-no. E
hoje é até capaz de chorar, se
lhe pagarem um copo e perguntarem
pela vida. Contudo, não nos
enganemos: apenas a terra o comove.
Porque é da terra que ela veio e
é pela terra que ela vai.
**
Dançamos, não podendo
Dançamos pela chuva, ao favor
do carro, que nos leva tranquilos
de bar em bar. A espera,
à porta, deixa-nos respirar o ar
molhado e pensamos um pouco melhor
no que queremos: ver pessoas,
circular. Beber um copo.
Mas se dançamos pela chuva,
de bar em bar, as paragens
tornam-se descansos e apenas
bebemos para molhar a conversa.
E conversamos molhados enquanto
secamos ao som da música.
A tranquilidade aninha-se, então
melhor nas nossas peles, falamos
mais próximos. E percebemos
a conversa trôpega e cansada
como barragem da noite
aos afluentes da dor.
Uma espécie de resistência
contra a fatiga de
tanto sentir, não podendo.
**
Estes dias também não ajudam
Estes dias também não ajudam.
Choro com a chuva e nem o percebo,
o frio faz-me procurar o teu corpo
mas o teu corpo já não é o mesmo
(eu sei ver por dentro da carne).
A escuridão corrói a minha pele
como se o Verão nunca mais
viesse. E mesmo as noites serem
mais longas só serve o maior
tempo que tenho para aceitar
que te perdi.
Eu danço sempre. Podendo ou não podendo. Chorando ou rindo, ou rindo, chorando.
ResponderEliminarEu danço sempre, sempre.
Com os pés no chão ou a cabeça de encontro ao céu. Sempre.
E fazes muito bem. :)
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