domingo, 23 de janeiro de 2011

O Cemitério de Praga

Já falta pouco para Março e para a edição portuguesa d'Il Cimitero de Praga, o último romance de Umberto Eco. Por sorte tropecei na edição original quando andava nas compras de Natal (que fiz no final de Novembro, note-se).

É um grande romance (mesmo grande, tem 521 páginas) mas está no meio da tabela da qualidade equiana. Isto, mesmo assim, ainda é muito acima do que podemos encontrar no resto do mundo. É que um romance médio de Eco é sempre um bom romance. Mas o que falta?

O cemitério de Praga está abaixo do Nome da Rosa e, claro, do Pêndulo de Foucault (nada está acima do Pêndulo) mas acima da Ilha do Dia Antes e de Baudolino. Não sei onde o hei-de colocar em relação a A Misteriosa Chama da Rainha Loana.

Todos os romances de Eco são, antes de mais, um prazer para o próprio. Apetece dizer que os seus leitores são os afortunados que coincidem com os seus gostos. Claro que esta coincidência quase sempre peca por defeito porque a erudição de Eco torna os seus gostos caros. Mas essa já é uma outra questão, não tanto estética mas epistemológica. Isto é, uma coisa é termos os mesmo interesses que ele, outra é sabermos tantos desses assuntos como ele. Contento-me por ir acertando quase sempre nos primeiros, mesmo se fico aquém no segundo: é um convite a aprender. Foi isso que aconteceu comigo, em primeiro lugar, com O nome da rosa, e depois, com aquele que é ainda hoje o meu romance preferido, O Pêndulo de Foucault: duas histórias que me interessaram, que me quiseram fazer querer saber mais e cuja trama policial (há sempre um policial nos romances de Eco) não se deixava soterrar pela erudição.

Infelizmente, não creio que a combinação tenha sido tão bem conseguida em Baudolino e, sobretudo, na Ilha do Dia Antes. Neste seu último romance voltei a sentir o mesmo, embora a época histórica me interesse um pouco mais, bem como o tema de fundo, a falsa conspiração judaica para dominar o mundo.

A questão é que os romances de Eco, para as pessoas cultas, são sempre divertidos e tentadores, pela sua dimensão enciclopédica tornada caixinha de surpresas. As personagens tornam-se, mesmo que pesadas, mais reais. E isso é, claro, devido à cultura.

Numa apreciação geral, diria que não fiquei desiludido, tanto que foram mais de 500 páginas que se leram como se fossem 200, mas gostava que Eco voltasse a encontrar a límpida medida do folhetim de aventuras encadernado como se fosse um compêndio universal.

A cultura sem charme ou um pouco de instinto perde-se.

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