quarta-feira, 14 de julho de 2010

Os Valores da Esquerda Democrática: Vinte Teses Oferecidas ao Escrutínio Crítico

O Zé Manel não tinha grandes ídolos. Eu pelo menos, só lhe conheci um: Sartre. Ele recusaria a palavra. Preferiria: maître à penser. Tudo bem. Nós compreendemo-nos.

Havia várias razões para esta afinidade com Sartre mas aquela que sempre mais me interessou foi a dimensão engajada - palavra do Zé Manel - que o fascinava e que ele dizia faltar à classe intelectual portuguesa (generalizando).

Evidentemente estar engajado não significa que ande metido com um gajo (apenas num sentido metafórico, como se poderá perceber adiante) mas que se está comprometido. Ou, talvez melhor, envolvido. Remete, enfim, para o activismo.

A mim faz-me sempre pensar na palavra "aplicada" a seguir à enunciação de uma ciência qualquer. Física...aplicada; Química....aplicada; Filosofia.......aplicada. A ideia de que o cultor não se fica pelas teorias, encontra maneira de pô-las em prática.

Eu gosto da teoria pela teoria, sempre gostei. Pode dizer-se, se acreditarmos nisso, que está na minha natureza. Pelo contrário, o que adquiri foi um gosto por esta "aplicação" da teoria. Aliás, por toda a aplicação de uma reflexão, de uma meditação. Que é, aliás, muito mais difícil, depois dela.

Quatro parágrafos e ainda não comecei a falar do que promete o título.
Por tudo o que tem de bom a mais recente obra de Augusto Santos Silva, é a sua dimensão engajada que me fez gostar muitíssimo de a ler.
Gostei da análise clara, lúcida, original, sucinta e directa com que analisa a esquerda democrática. Claro que gostei disso mas gostei ainda mais do modo como culmina a análise na exortação de que a esquerda democrática, tanto quanto cultura, é uma linguagem. Eu preferi ler, uma acção. Afinal, seguindo Wittgenstein (ou Gide) a linguagem serve para agirmos.

Esta dimensão comunicacional da esquerda é aquela que hoje em dia mais me interessa na Política e aquela que melhor espelha o percurso que tenho vindo a fazer, de espectador interessado da vida política para uma presença mais activa. Hoje tenho a certeza que já não consigo conceber o mundo político sem pensar nele como um mundo que exige uma intervenção prática. Com isto não estou a criticar a teoria e a filosofia política mas a afirmar que a política exige uma intervenção para que possa ser completa.

E, por tudo isto, ser da esquerda democrática implica uma cidadania de participação e não um conforto crítico de bancada. Implica, em suma, um engajamento. Tanto mais intenso quanto mais críticos pretendermos ser.

Creio cada vez mais que a crítica, em política, deve ser acompanhada por um ónus de alternativa, de criticar para construir em vez e não para destruir de vez.

Sem comentários:

Enviar um comentário