quarta-feira, 2 de junho de 2010

Lembrar os links mortos

A modernidade permite mostrar a inutilidade de velhos hábitos. Porém, alguns perduram - sob o generoso epíteto de "tradição" - por razões estéticas ou sentimentais. Nem tudo pode ser utilidade nesta vida.

Exemplo acabado: as hiperligações, os vulgares links. Não sei como faziam mas eu, antigamente, não assim há tanto tempo, quando alguém mudava de casa, lá se riscava a entrada na agenda e acrescentava outra. Depois vieram as agendas electrónicas, o Outlook, os telemóveis e o diabo a quatro. Aí não era preciso riscar. Podia simplesmente apagar-se a antiga e escrever a nova. Para os mais saudosistas, acrescentava-se a nova, sem apagar a velha. Ficávamos, assim, com entradas que não iam dar a lugar nenhum, o mesmo acontecendo com velhos números de telefone (da casa dos pais, da residência, do quarto alugado, do primeiro telemóvel).

Não creio que com as hiperligações (também gosto desta palavra portuguesa para link) devam ter tratamento diferente. Devemos honrar os links que caíram, muitos deles em combate. Muitos deles tentando - tendo a esperança de - conseguir imortalizar pequenos textos, fotografias, singularidades, notas esparsas e dispersas que a Internet é pródiga em promover.

Quando se tem um blog há 7 anos, como é o caso deste Busca, é normal que muitos links já não funcionem: blogs que acabaram, que mudaram de poiso, notícias que não ficam arquivadas em lado nenhum, sites cujas empresas fecharam portas, tragédias mesmo pela morte de alguém.

Mas a hiperligação (e até mais), tal como um braço estendido, é sempre tanto onde se quer chegar como donde se parte. E mesmo que hoje já não se chegue com certos links a lado algum, se estamos aqui quer dizer que um dia quisemos lá chegar, que um dia lá chegámos e, mantendo esse links, lembramos que um dia tudo isso. Mas fazemos também testemunho de uma continuidade. Não de um passado morto mas desse imenso devir, que explica e replica as coisas.

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