segunda-feira, 3 de maio de 2010

O elogio da (minha) mulher

É um paradoxo que merece alguma atenção esta coisa estranha de ser tão fácil elogiar as mulheres quanto é inversamente difícil elogiar a própria.

Livros e livros cheios de odes, loas, encómios e afins dirigidos à Mulher, esse ser magnífico e celestial, superlativo de todas as qualidades e virtudes mas nem umas linhas sobre a mulher dos autores dessas linhas. Às vezes, uma dedicatória tímida, a que podemos emprestar a desculpa das entrelinhas, do pudor, da reserva. Parece-me fraco argumento. Ouso assumir que há aqui uma cedência à pressão social: elogiar a mulher em público, dizê-lo em voz alta, rompendo a linha breve da dedicatória escrita, é foleiro, lamechas, ridículo, embaraçoso.

Um tipo sai à noite com os amigos. Pode passar boa parte da noite a falar de mulheres, que as adora, que as isto, que as aquilo. Mas nem uma palavrinha de elogio para a mulher que o atura.

Há, evidentemente, uma razão simples, admissível, compreensiva: a falta de motivação. É mais fácil elogiar a estimulante abstracção que a rotineira realidade. Se tão difícil é mantermo-nos apaixonados pelas nossas mulheres, pior ainda, dirão alguns, é ainda termos motivação para elogiá-las. Pode ser, pode ser. Mas seja como for a falta é real, a ausência facilmente notada:

não há um discurso público de elogio à mulher própria. E, no entanto, devia ser fácil. Quase algo que podemos melhorar pela simples prática, pelo treino. Começar pequeno, de forma simples: eu amo a minha mulher. Depois passar para coisas um pouco mais complexas: a minha mulher é a minha companheira de todos os dias, formamos uma equipa do caraças. Com o ritmo adquirido podemos ensaiar alguma paixão, algum arrebatamento: a minha mulher é magnífica, é uma mulher e tanto, além de me dar uma tusa dos diabos, é uma companhia perfeita.

Não é difícil como vêem. É deixar o espelho e ir ensaiando junto de familiares, depois amigos, depois colegas de emprego e estamos prontos para o grande público em geral: pessoas que conhecemos em festas, nas paragens de autocarro, na fila de um serviço público, etc, etc.

É experimentar, é bastante libertador.

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