Poesia?
experimenta espetar um ferro em brasa pelo teu peito
primeiro pelas costas até chegar à boca do teu coração e
além. Até sentires a carne a dançar em torno do tição.
Deixa, depois, sarar, deixa passar os anos. Não dói.
(a dor é o menos, a dor é o menos, a dor é o menos)
Depois deixa-te à noite de Lisboa, vai ao cair da meia noite,
pela rua de O século, sem ninguém, algum jovem perfumado,
alguma mulher mulata ligeira, assustada. E pensa:
o ruído da cidade para mim é música. Lisboa cantando.
Para mim é silêncio, pois a brasa não tem voz e só o fogo crepita.
As memórias, por isso, nunca são fogo, são braseiro.
Poesia? Experimenta andar em Lisboa, num dia frio.
Sem comentários:
Enviar um comentário