quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Da raiva

Se há sentimento pelo qual tenho, mais do que fascínio, respeito, é a raiva.

Creio bem que, juntamente com o amor, a raiva explica o mundo. Tenho a certeza que lá nos confins do tempo, entre Érebo, Eros e Gaia, naquele instante depois do fim do Caos, estava também a raiva. Pois, mal começa a existência principia a possibilidade da raiva sobre todas as coisas que a existência nos traz e com as quais não sabemos ou não podemos lidar.

Não é apenas nascermos para morrermos. É, sobretudo, all in between, tanto mais dilacerante quanto mais o mundo nos entra pelos poros e pelo espírito.

Vou acreditar até morrer que Stan Lee se inspirou em Dylan Thomas para criar o Hulk. Haverá versos mais entusiasmantes do que "rage, rage against the dying of the light!"?

Está lá tudo, o desespero ante o desaparecimento de uma coisa boa e pura, o sentimento de impotência e revolta pela perda de algo bom, que se quer e de que se gosta: eis a raiva explicada, num dos seus muitos modos.

Desde que me lembro que me sinto acompanhado pela raiva, o sentimento. Sem mais complementos. Depois iniciei um lento labor, que nunca concluirei, de descoberta dos objectos da raiva e percebi que a raiva é, realmente, como o amor.

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