sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Batatas

Não é por ser este o ano internacional da batata mas sempre que compro batatas sinto-me mais perto da terra, mais humilde. Talvez porque me lembro das histórias de pobreza da infância da minha mãe, em que apenas comia batatas guisadas. Talvez porque a batata, esse tubérculo amigo, está sempre à mão de semear: por todo o país, ao menor espaço de terra, num pequeno quintal, exígua eira, alguém aproveita para plantar umas batatas. A terra quase sempre dá e sempre se fica com alguma coisa para o caso de vir o bacalhau ou a vitela. Um bocadinho de alho depois, uns murros e já está. A batata é, verdadeiramente, religiosa. Muito mais do que o arroz ou a massa, que sempre associei ao meio urbano, a batata religa-nos à terra, primeiro, e depois aos outros. Uma boa batata cozida, uma batata assada, com pele ou sem pele. Branca ou roxa. Já nem falo das batatas fritas que, creio, ninguém se lembra que são as batatas de aqui elogio. Demasiados peelings, tornaram-na a mais artificial das batatas. Excepto aquelas à avó, ainda feitas em palitos cortados à mão e fritas em azeite novo. Quando trinco uma batata, assada com pele e regada em azeite os meus pés ganham raízes, vem-me à cabeça a palavra "telúrico" dos poetas e, por Deus, sinto que estou a comer a terra, como se eu fosse a terra.

1 comentário:

  1. Fez-me lembrar a pintura Os Comedores de Batatas, de Vincent van Gogh, datada de 1885, no Rijksmuseum van Gogh, em Amsterdão (http://www.impressionist-art-gallery.com/images/potato_eaters.jpg")...

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