segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ironia macabra

Não deixa de ser irónico que a Assembleia desta nossa República reúna, enquanto decorrem as obras de remodelação da Sala de Sessões, na Sala do Senado, onde preside, tutelarmente, sobre as cabeças do Presidente da Assembleia da República, do Primeiro-Ministro, dos Ministros e dos deputados, as altas figuras da República, o rei D. Carlos, representado num majestoso quadro a óleo. Monarca assassinado em nome da República, velando agora pelos plenários da sua Assembleia.

Adenda: Diz-me a minha fonte na Assembleia na República que a minha percepção ocular histórica me traiu (ver primeiro comentário a este post) e que não é D.Carlos mas seu pai D. Luís, quem está representado na sala do senado da Assembleia da República, sobre todo os deputados da mesma. Assim, sendo, não havendo morte d'homem, que D.Luís morreu de morte natural, vai-se o macabro e fica apenas a ironia de termos a monarquia a apadrinhar a República.

3 comentários:

  1. Opá! Não é o D. Carlos! É o pai dele, D. Luís I - rei em exercício quando esta sala foi inaugurada, em 1867! Mas não é ironia, e muito menos coisa macabra, é apenas uma questão de bom senso que nos impede de mudarmos a mobília a cada 3 meses, certo?! Já basta terem metido à pressão o busto da República entre os Pares do Reino na retaguarda das bancadas...
    E a sala é conhecida como Sala do Senado mas não foi para esse órgão que Fontes Pereira de Melo mandou o arquitecto Jean Colson projectá-la. Foi sim para o Pariato. Só depois veio a acolher as reuniões do Senado, órgão que sucedeu ao anterior durante escassos anos, após os quais voltou a dar-lhe lugar... Mas a sala teve a sua última ocupação continuada em 1974, com o fim da Câmara Corporativa que nela reuniu durante o Estado Novo. Desde então tem sido uma espécie de "pavilhão polivalente", ao serviço das Comissões parlamentares, de micro-ensaios de cidadania como o Parlamento dos Jovens, de concertos musicais, e do que mais vier.
    Desculpa o relatório, mas não resisti...
    Beijo*

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  2. Bolas...é a cara chapada do pai... É o que dá não confirmar as aparências... :) Obrigado pela inside (and scholar) information. Beijo.

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  3. Sim, são parecidos, embora D. Luís fosse infinitamente mais magro... E as parecenças não se resumiam ao rosto e à cor do cabelo e dos olhos, pois tinham ambos personalidades, gostos e dotes artísticos parecidos. Herdados, aliás, do patriarca D. Fernando de Saxe-Coburgo.
    E já que falamos de hereditariedade, não esqueçamos que no caso português a República herda o constitucionalismo da Monarquia do século XIX. É certo que as Constituições republicanas diferem substancialmente das monárquicas, mas o princípio está lá e firma-se no Liberalismo (representado também na mesma sala, pela figura alegórica numa das sobreportas). Portanto, o Liberalismo é o gene comum à Monarquia Constitucional e à República. Assim sendo, eu não lhe chamaria "apadrinhamento", mas sim paternidade de facto. (Isto sim, é irónico!)
    Beijo*

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