terça-feira, 28 de outubro de 2008

A galáxia da minha expressão

Há um livro clássico, intitulado Galáxia Gutenberg, de McLuhan, que em tempos me fez despertar para o mundo e que por vezes vem à boca de cena ecoar-me qualquer coisa de vago, impor uma vez, propor um texto. Hoje lembrei-me da Galáxia da minha expressão porque verdadeiramente não há um Gutenberg da blogosfera. Talvez a Galáxia Blogger ou a Galáxia Sapo mas não um nome que se dê, só a frieza, mais ou menos hip, das novas marcas, do novo tempo.

Enfim, há uma galáxia da nossa expressão quando já não é suficiente um blog para nos conter. Em bom rigor, o problema começara antes, muito antes. A estas pessoas, que encontramos pela blogosfera, desdobradas em nomes dentro do seu próprio blog, desdobradas em blogs dentro da blogosfera, nada é verdadeiramente saciante e a fome já vem de trás. Primeiro foi o corpo que se lhes estranhou ou talvez o quarto ou o bairro também. Depois foi a voz ou as palavras ou as palavras e a voz, quando por canetas e lábios se meteram dentro do mundo. Houve que partir os pedaços de língua que milagre nenhum consegue fazer a multiplicação do tormento se não houver primeiro uma multiplicação das palavras. Digo tormento porque todo o sentimento principia assim. Não me venham com as balelas costumeiras das dicotomias entre felicidade e agrura, entre contentamento e pesar. Há sempre um tormento na alma daqueles que precisam de mais. Mais um nome, mais um blog, que galáxia inteira alguma vez vai bastar.

Quando os encontro e quando os reconheço não posso deixar de admirá-los. Esses anti-místicos que não procuram a unidade com Deus mas a pluralidade consigo. Bolas, que belo. E as palavras ganham novas arestas, como se tilintassem em estilhaços, verdadeiramente possíveis pela proximidade mágica entre todos os blogs e textos que esta galáxia encerra.

Apetece abraçá-los, descobrir esse novo e verdadeiro abraço virtual que desfaça e refaça esta galáxia, que contenha e concentre todas essas dispersões, todas essas fugas em busca de redenção para uma dor desconhecida. Apetece transformar todas essas galáxias no alfa e no omega - tudo há de passar, bem sei - mas apetece comer as palavras e o espaço entre elas, como as estrelas e o espaço entre elas e fazer um Big Bang ao contrário. Só para poder dizer a esses estranhos do corpo, do caminho, das palavras: descansem um pouco, só um pouco, por uma vez, isto vai começar tudo de novo, muito em breve.

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