quarta-feira, 14 de maio de 2008

O bom negócio de Rui Tavares

É estranho mas revelador ler Rui Tavares a concluir o seu artigo de hoje no Público explicando que certas e determinadas concepção, que apelida, por exemplo, de nacionalistas (esse fantasma) podem impedir Portugal "de fechar um bom negócio - e que nos convém muito especialmente a nós". O que eu gostava de saber é o seguinte:

1. Quando é que o Acordo Ortográfico se transformou num negócio?

2. Por que é que o Acordo Ortográfico nos convém especialmente a nós?

Para a primeira Rui Tavares não fornece qualquer explicação e eu, confesso, não tenho qualquer ideia. Bem pelo contrário. Se há coisa que um Acordo Ortográfico não devia ser era um negócio.

Já quanto à segunda questão Rui Tavares avança um explicação que vai correndo o risco de se tornar clássica, tanto quanto desprovida de sentido: Portugal é a parte fraca do Acordo, o Brasil o parceiro de força. Novamente, não vejo porquê. As razões avançadas por Rui Tavares são boas razões - lá está - negociais mas escapam completamente ao leque de razões que devem presidir - já que temos que levar com ele - a um Acordo Ortográfico.

A haver um Acordo Ortográfico que seja para que cada país vá tão longe quanto admita na cedência sobre a sua norma linguística. A língua, como Rui Tavares não ignora, é algo de profundamente cultural, talvez até, o mais cultural dos bens culturais, e por isso escapa a uma análise económica, objectiva que seja: há no seu âmago elementos emocionais, históricos, comunitários que têm que ser ponderados e, mais, respeitados. É bem por isso que entre o Reino Unido e outros países da Commonwealth britânica nunca se estabeleceu qualquer acordo linguístico e isso permite que se falem vários ingleses para riqueza da língua inglesa (que, aliás, bem precisa) e para garantia da diversidade linguística que é sempre reflexo de uma outra diversidade. Se Portugal e os restantes países lusófonos são diferentes isso deve estar espelhado num Acordo Ortográfico. Como qualquer jurista sabe um Acordo não espelha só aquilo em que se acorda, deve espelhar também aquilo em que se discorda. Que é, quase sempre, o mais importante.

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