terça-feira, 13 de maio de 2008

Eram os anos 60

Corre na cinemateca um ciclo com o nome deste post. Não é bem sobre os anos 60 mas é à cause des anées soixante. E, como se sabe, os anos 60 têm as costas largas.

Gosto muito de ver filmes dessa época. Tenho emoldurada, na Casa do Limoeiro, o destacável especial que a Cinemateca fez para promover um ciclo sobre a Nouvelle Vague, que passou lá para os idos de 95 ou 96, não me lembro muito bem. Belos filmes, os clássicos, os mesmos de sempre, pois ainda não houve outra época - com tanta diversidade de realizadores, actrizes e actores - que conseguisse tanta unidade. A razão pela qual gosto tanto de filmes dessa época é por terem sobre mim um efeito onírico-opiáceo. Descontraem-me, relaxam-me, mandam-me para Neverneverland. E a questão é mesmo essa. Para mim os anos 60 são ficção científica, são algo que está mais perto do que não existe do que os vindouros anos 40. Marcaram uma geração, mas não foi a minha, digo-o com sinceridade. Ao ver os filmes dessa época - e digo, dessa época, não sobre essa época - sou sempre tomado por uma sensação de férias permanentes, de um mundo que foi para nunca mais. Por mais e mais que o evoquem e saudem. Os saudosismos, de resto, sempre me passaram ao lado. Tenho com essa época uma relação de irrealidade, muito distinta daquela que tenho com outras, mais antigas, com as quais consigo estabelecer uma relação histórica, de esforço de reconstituição, de verosimilhança. Por contraponto, mesmo com a abundância de fontes - vivas, para mais - os anos 60 parecem-me sempre inverosímeis. Para o bem e para o mal. E isso acaba por ser bom, pois só a inverosimilhança, a irrealidade, me conseguem distrair, relaxar. No fundo acredito mais na ficção científica da Marvel do que nos anos 60 e isso, creio, é verdadeiramente a imaginação no poder.

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