segunda-feira, 3 de março de 2008

Maria Gabriela Llansol - um falcão no punho
(1931-2008)

Fará amanhã uma semana, que bem cedo, pela manhã, embrulhei um exemplar de O Jogo da Liberdade da Alma para oferecer a uma amiga, como prenda tardia para um aniversário recente.

Ofereci-lhe o exemplar que tinha adquirido já não sei onde, tantos são os livros de Llansol que fui juntando ao longo dos anos. Fiquei com um outro que a autora me havia dado há algum tempo, quando nos conhecemos.

Quando a minha amiga me perguntou pelo livro sabia que não haveria resposta possível a dar-lhe. Discutir o universo llansoliano é possível, claro, e este espaço demonstra-o inequivocamente. Mas, como um dia tentei explicar a João Barrento, entrar no Universo de Maria Gabriela Llansol era para mim, desde que aos 18 anos a descobrira através do pequeno tesouro que é Hölder de Hölderlin, um privilégio solitário.

Pode ser alquimia da minha natureza mas creio bem que não: o universo llansoliano é um universo caleidoscópico onde o local em que captamos a sua luz nos permite ver algo que só nós vemos. Podemos, depois, discutir, as nossas visões - como é uma aparição o próprio mundo de Llansol - mas tenho dificuldade em aceitar que em algum momento estejamos a falar da mesma coisa.

Isto que é um lugar-comum de toda e qualquer realidade parecia-me em Llansol ser assumido com uma clareza e ao mesmo tempo com uma doçura que tornam a sua leitura um passeio pelos mais agradáveis e misteriosos bosques da ficção.

Já aqui escrevi várias vezes sobre ela e não tenho qualquer ensejo para um requiem. Se há autora cuja existência para mim sempre perdurará é a da Maria Gabriela Llansol.

Graças a ela pude e poderei sempre reencontrar, como velhos amigos, Hölderlin, Ibn Arabi ou Espinosa, entre aqueles que passeiam por Lisboa ou Leipzig, ou outros destinos à distância de uma causa amante.

À minha amiga respondi-lhe, porque não queria deixá-la sem uma resposta sobre o Jogo da Liberdade da Alma, que Maria Gabriela Llansol nos dá um mundo mas um mundo em que somos livres, com toda a angústia e felicidade que isso acarreta. Creio que não se pode pedir mais.

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