segunda-feira, 9 de julho de 2007

No blog à minha procura

Quando se tem um blog há 4 anos e se escreve com a regularidade que o Em Busca da Límpida Medida apresenta o blog começa a assumir contornos de memória autónoma, partilhada. Como um disco rígido externo. Por vezes, lembra-me de mim coisas que eu próprio já não lembrava e cuja rememoração traz, quase sempre, contentamento.

Esta faculdade do blog para um pessoa como eu - com uma vivência hiper-veloz do tempo, com problemas de identidade - é particularmente soothing, to say the least.

Além de me conciliar com o tempo que passa, permitindo alguns retornos e conclusão de círculos, que de outro modo ficariam - ainda mais - entregues ao Acaso, permite-me a consciência - que tantas vez me está escapando - de uma certa coesão emocional, de uma certa unidade sentimental.

Por exemplo: ontem, pelas razões que estão explicadas num comentário a esse post, escrevi sobre Tanya Donelly. E hoje, pela manhã, resolvi usar a abençoada função do Blogger (powered by Google) para descobrir quantas vezes, nos últimos 4 anos, tinha eu escrito o nome Tanya Donelly.

Evidentemente não se tratou de uma contagem estatística mas de usar a Busca como uma anfetamina da memória. No que não deixa de ser um função ulterior deste blog, muito interessante: não só é uma busca prospectiva, com o futuro imaterial em vista, mas uma busca regressiva, em que se recupera - actualiza - um passado e, mais importante, as suas razões. Com a renovação mnemónica de um post passado vem quase sempre a memória do seu contexto, com as suas características opiáceas ou excitantes.

Esta dupla função da Busca torna este blog a melhor invenção deste as caixas de sapatos, onde desde há muitos anos - descoberto o paradoxo de não conseguir livrar-me emocionalmente de certos objectos e experiências mas também não me ocupar deles se com eles ficasse - comecei a guardar tudo caixas e caixinhas.

Pode dizer-se que estou a fazer ao meu passado, às minhas memórias, aquilo que o mundo, as empresas, as administrações públicas têm vindo a fazer aos seus arquivos: desmaterialização de dados, de processos, de informação.

O meu lastro, contido, avisado, pacífico é agora - cada vez mais - digital.

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