domingo, 1 de julho de 2007

Público

O jornal da minha família era o Diário de Notícias. Não porque o meu pai ou a minha mãe o lessem - não liam jornais por aí além - mas porque o meu avô o comprava e degustava religiosamente. Aliás, fazia-o quase sempre num café por trás da igreja da Amadora, acompanhado de uma Água das Pedras. Sempre fui um rapaz de família nuclear - mesmo que muito atípica - e, por isso, via pouco este meu avô materno, mesmo vivendo perto. Porém, e talvez por isso mesmo, lembro-me de pormenores como este, com muita vividez. Daí que o DN tivesse ganho para mim, com os anos, um ar de respeitabilidade, de sobriedade. Mesmo que o achasse, nessa altura, um pouco chato.

E então, em 1991, surge o Público. Confesso que foi a novidade que me atraiu. Eu, em 1991, lia poucos jornais. Mas comecei a comprar o Público. Foi a novidade. It gets me everytime.

O que me tinha realmente apanhado, tal como ao DN que lia com o meu avô, fora a prosa. Viria a percebê-lo muitos anos mais tarde, reflectindo já sobre o passado e sobre o panorama jornalístico português nesta década.

Excluída a imprensa estrangeira, hoje mais acessível graças à Internet, não parece haver grandes dúvidas que o DN e o Público eram até há bem pouco tempo os diários das elites. Basta comparar as tiragens e apurar os números realmente vendidos dos vários diários para perceber que o DN e o Público são os que menos se lêem. Mas se isto em tempos podia até ser um sinal de estatuto, de excelência, hoje, temo, é sinal de decadência. E penso, sobretudo, no Público.

Ultimamente o jornal tem vindo de mal a pior. Continuo a lê-lo e, por isso, sei do que falo. A baixa de qualidade estende-se a tudo: à qualidade gráfica, à correcção do português, ao rigor da selecção e tratamento dos factos. Dá pena.

Com o cenário jornalístico que este país tem o que era preciso era mais exigência e mais rigor e não mais um jornal a correr o risco de sucumbir à mediocridade. Para isso já há bastantes, há mais tempos e com muito mais experiência.

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