segunda-feira, 18 de junho de 2007

Nós, os meios de comunicação

A moderna liberdade de imprensa - e quando digo moderna estou a pensar numa liberdade de imprensa com mais de 200 anos - sempre foi uma promessa por cumprir. Criada a pensar nos fazedores de panfletos que à liberdade de expressão juntavam mais qualquer coisa - o desejo de informar - ela estava limitada pela realidade. Pois bem, a promessa cumpriu-se. Pelo menos no mundo ocidental.

A liberdade de imprensa, entretanto convertida em liberdade de comunicação social pela chegada de outros meios de difusão de informação para além da imprensa - a rádio, a televisão, a internet - está hoje ao alcance físico de todos. Pode dizer-se que resta apenas a metafísica da comunicação. E o que lá está dentro não é pouco: metodologias, teleologias, éticas, morais, deontologias.

Creio bem que, para compreender os desafios, agora já não da modernidade mas da contemporaneidade, no que à liberdade de comunicação social diz respeito é preciso estar muito atento. E, depois, ser flexível, ter memória histórica: o mundo está a mudar e a velocidade da mudança é exponencial. Muda mais em menos tempo.

No esforçado desafio de compreender a mudança e estar nela bem mais integrado há uma obra que me parece absolutamente essencial: We the media - grassroots journalism by the people, for the people, de Dan Gillmor.

Uma vez que as loas a esta obra são fáceis de encontrar por toda a internet vou centrar-me em alguns aspectos por ele levantados.

1. O primeiro aspecto muito interessante deste livro é que pela primeira vez se faz um excurso histórico da imprensa, desde a sua origem moderna nos primeiros anos dos Estados Unidos até à actualidade (e quando digo actualidade quero mesmo dizer até hoje, pois o livro continua via internet);

2. Os blogs, enquanto o mais democrático fenómeno de comunicação social a surgir na internet, merecem particular atenção, sobretudo devido às suas baixas barriers to entry:

In journalism since de mid-nineteenth century, barriers to entry have been high. With the weblog barriers to entry are low: a computer, a Net connection and a software program like Blogger or Movable Type gets you there. Most of the capital costs required for the weblog to "work" have been sunk into the internet itself, the largest machine in the world (with the possible exception of the international phone system.)
Jay Rosen, citado por Dan Gillmor, pág 30.

3. Os blogs como ferramenta de análise política, em virtude da sua potencial independência.

What third-party sites such as independent blogs showed was the value of niche journalism in politics. The issues of our time are too complex, too nuanced, for the major media to cover properly, given the economic realities of modern corporate journalism.
Dan Gillmor, We the Media, pág. 103

4. Graças a este livro fiquei a conhecer o projecto iCan e Earth911, como exemplos de intervenção social.

5. Reencontrei-me com alguns dos argumentos contra e a favor do anonimato na internet. E, apesar de discordar, gosto da passagem em que se afirma, a propósito do blogger anónimo:

Debating skills are not proof of anything. In the absence of a foundation for his comments, he hadn't earned anyone's trust. Credibility stems not just from smart arguments; it also comes from a willingness to stand behind those arguments when a compelling reason to stay anonymous is absent.
Dan Gillmor, We the Media, pág. 181

6. E gosto do título do capítulo final "Making Our Own News"

Blogs and other modern media are feedback systems. They work in something close to real time and capture - in the best sense of the word - the multitude of ideas and realities each of us can offer. On the internet, we are defined by what we know and share. Now, for the first time in history, the feedback system can be global and nearly instantaneous. [...] However, I'm still not convinced that Big Media is doing the most important thing: listening. We are still in a top-down mode and don't realize that the conversation is more important than our pronouncements. I see progress, but not enough.
Dan Gillmor, We the Media, pág. 237


Tudo isto no dia em que descubro este livro: The Cult of the Amateur: How Today's Internet Is Killing Our Culture and Assaulting Our Economy.

A internet (e os blogs) serve sobretudo para isto: desafiar e apurar o nosso espírito crítico. Alea jacta est.

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