domingo, 27 de maio de 2007

O Limoeiro

há na minha casa alentejana um Limoeiro. Eu cresci sob a sua sombra, intermitentemente. Sobre as suas flores, o seu perfume e, talvez o mais importante, cresci na medida dos seus limões. Começavam por nascer acima de mim, primeiro muito acima de mim, quando era apenas um puto, depois menos, e hoje há alguns que nascem à altura dos meus olhos. Depois caem ao longo da minha altura e às vezes apanho-os do chão.

Desde pequenito habituei-me a descascá-los com o canivete, que o meu avô me oferecera, e gomo a gomo degustá-los. Adorava o sabor ácido e amargo. A minha tia arrepiava-se só de ver. E eu na altura não percebia porquê. Para mim o limão era honesto, era o que era. E eu não me importava. Eu gostava das caratonhas que me fazia fazer e da sensação de purificar-me por dentro.

Um dia, mais tarde, já a minha avó tinha morrido há muitos anos, o meu avô há menos, tomei coragem e baptizei aquela casa de Casa do Limoeiro e decidi que ali seria sempre eu. Prometi que se um dia partisse direito a um monte alentejano meu, para me desterrar do mundo, plantaria uma alameda de limoeiros, da estrada até à casa, como sinal de que não guardava rancor. Apenas me tinha apetecido partir. Ainda não morreu esse sonho. Mas tenho muitas vezes medo da morte do Limoeiro. Como só tenho da do Zé Manel.

Faço limonada regularmente, no meu apartamente de Lisboa, com limões do Limoeiro de que eu sou. E acho que estou a bebê-lo e sinto-me perto dele. Gosto de todas as metáforas que ele me fez descobrir no mundo. E é o único amarelo que amo, cor que abomino.

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