terça-feira, 15 de maio de 2007

Elliott Smith Público

No passado dia 4, o Ipsílon, do Público, publicou um artigo, assinado por Pedro Rios, sobre Elliott Smith, a pretexto do novo álbum New Moon, que recolhe uma série de temas do músico de Portland, na maioria nunca antes editadas mas já com alguns anos.

Para esse artigo, Pedro Rios lembrou-se de me colocar umas questões, que, parcialmente, integram o seu artigo, aliás, bom de fazer ainda mais saudades de Elliott, o que é difícil, no meu caso.

Todos estes textos e lembranças em volta dele fizeram decidir publicar as respostas integrais às perguntas do Pedro, pois fizeram-me regressar ao dia em que soube da sua morte e reviver outras alturas da minha vida.

- Como é que conheceu a música de Elliott Smith (ES)? Em que altura da vida?

Conheci a música do Elliott Smith há quase 10 anos, em Barcelona, em casa de uns amigos portugueses. Eles ouviam muitas vezes o Either/Or, que tinha saído recentemente e que se havia de tornar o meu álbum preferido de ES até hoje. Estava nos últimos anos da Faculdade, uma idade e altura em que, ouvia menos música mas com mais atenção. Daí ter sido uma boa altura para esse encontro.

- Qual é a sua relação com ela?

ES faz parte de um pequeno grupo de músicos que me dão a ideia de partilhar a sua intimidade, eu a deles e eles a minha. Como dou muita importância às letras parece que estou a ouvi-lo falar comigo e que as letras assentam nas próprias questões com que me vou debatendo.

É muito difícil explicar isto mas o ES é como uma voz que assenta na perfeição entre outras que trago comigo, normalmente de amigos, de pessoas que me tocam, conheça-as ou não. No caso do ES, quando o ouço, sou sempre transportados para um momento em que a vida se concentra nas poucas coisas que realmente importam, nesse momento, mesmo indo mudando. E esse é um sortilégio muito difícil e ao qual dou muito valor. Essa religação torna a experiência ES quase uma experiência religiosa.

- Consegue separar a música da pessoa e da sua história de vida trágica? Ou as coisas estão inevitavelmente ligadas?

Hoje é quase impossível. Sobretudo certas músicas lembram-me inevitavelmente a morte de ES e isso é algo que passa a acompanhar a experiência da sua música.

- ES, Jeff Buckley, Kurt Cobain. Estes são talvez os 3 músicos mais míticos e simbólicos da década de 90. Os três suicidiram-se ou pelo menos tiveram mortes estranhas. É uma coincidência ou a mitologia rock valoriza esses fins trágicos?

Acho que são coincidências no sentido que não faria uma relação entre esses três músicos para além da sua morte. Mas é verdade que sempre houve, até ampliaria esse triste imaginário para lá da década de 90, uma relação entre músicos e o suicídio. Acho que isso tem que ver com a relação que estabelecem com as suas emoções e consequentemente com o peso delas numa visão apropriável do mundo. Mas isto era todo um outro texto.

- Existe um certo fascínio com a morte nos fãs de música?

Talvez na adolescência. A teenage angst, num momento ou noutro contempla a morte, creio que como mecanismo para sair da adolecescência. Numa altura em que se acha ser imortal a morte pode aparecer como algo mitificado e maravilhoso. Na verdade, quando se vêem a fundo as condições e razões da morte dos músicos só há angústia e desespero.

- Nesta era da Internet, em que tudo é extremamente rápido e disponível, acredita que ainda há espaço para a construção de mitos, que parece ter existido nos anos 90, com ES, Buckley e Cobain?

Acho. Acho até que esses mitos se construirão mais rapidamente com a consequência de também se desvanecerem mais rapidamente. Mitos automáticos, podíamos chamar-lhes assim. Por outro lado esta época vertiginosa mostra com mais contraste quem ainda está na música como uma experiência artística pessoal e sofrida e quem não está. E essa diferença terá sempre reacções díspares dos fãs.

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