terça-feira, 25 de maio de 2004

Tróia - O filme



A chave para aceitarmos esta versão surge logo no início dos créditos finais. Surge a certa altura a frase "inspired in Homer's Iliad" e não adaptado da Ilíada de Homero. Penso que a distinção faz todo o sentido.



Para compreendermos os problemas que se colocam entre uma adaptação e uma inspiração talvez o melhor seja recorrer à mais recente experiência comparável, o Senhor dos Anéis. Aqui, ao contrário do que acontece em Tróia, trata-se de uma verdadeira adaptação em que mesmo os cortes e alterações são motivados por aspectos técnicos, como a duração ou encadeamento. Excepção feita ao episódio de Tom Bombadil. No entanto, houve sempre grande vontade de caminhar ao longo da obra literária.





Não assim em Tróia onde a proximidade com a obra é muito ténue, pese embora os aspectos em que fielmente se segue a Ilíada.



A primeira das opções que tornam Tróia uma inspiração e não uma adaptação é a ausência de deuses, com a excepção da conversa entre Aquiles e Tétis. Ora a Ilíada é tanto uma história de deuses como de homens. Mais, toda a guerra de Tróia resulta de acontecimentos divinos. O episódio do Pomo de Éris (Discórdia) e todas as suas consequências.



Depois há aspectos que ficam por explicar como a origem de Helena, filha de Leda e Zeus e por isso a mais bela mulher do mundo; ou a promessa que Odisseus conseguiu que todos os reis da Grécia fizessem, de apoio a Menelau, quando este casou com Helena; ou a origem da imortalidade de Aquiles.



Há outros aspectos que simplesmente são confusos ou enganatórios. A Guerra de Tróia durou 10 anos e não uns meros meses como o filme pode fazer crer. Do lado grego, nem Menelau nem Ajax (Telamon) morrem. E Aquiles nunca chega a entrar em Tróia.



Outro aspecto que procurei em vão, pois é um dos meus mitos preferidos, foi o da profetisa vã. Onde está Cassandra, a irmã de Páris e Heitor? A profetisa cuja dom nunca era crido, por maldade de Apolo.



De positivo retenho a tentativa de abordar um dos aspectos cruciais da Ilíada a solidão desesperada e abandonada de Aquiles, entre a imortalidade e a humanidade...mas mesmo aí o filme soçobrou.



De resto um bom filme de acção.

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