quinta-feira, 20 de maio de 2004

A angústia da avaliação

Nada há pior do que avaliar. Com efeitos externos, entenda-se.

Prefiro mil vezes ser avaliado, criticado e corrigido do que ser eu a voz activa desses verbos. Pois, toda a avaliação me parece uma injustiça necessária.

A única avaliação justa possível seria a divina. E eu tenho poucas pretensões, além da curiosidade mística, a tornar-me menos humano do que sou.

A humanidade dá-se mal com a avaliação. E aqueles que se dão bem são para mim sempre suspeitos. Aquele que se afirma um bom avaliador ou um avaliador nato de comportamentos humanos, com pretensões a classificá-los, preocupa-me. A única avaliação que me parece benéfica é a interior, a oculta, silente. Aquela que fazemos para nós mesmos, para determinar exclusivamente a nossa própria conduta. E mesmo assim, sempre me percebo preocupado com tal tipo de avaliação poder estar a preterir ou eleger algo que o não mereça.

E mesmo os denominados métodos exactos, a quantificação, me preocupa. Pois não podendo levar em conta todas as variáveis do ser humano, parecem-me sempre formas de ficarmos melhor com as nossas consciências, sacudir a água do capote ou lavar nela as nossas mãos.

Parece-me, bem pelo contrário, que o melhor caminho, a ter que se avaliar seres humanos, numa dada actividade, é combinar os dados quantitativos com a nossa própria intuição. E daí a importância do carácter, da atenção, da disponibilidade do avaliador para pressentir e perceber o maior número de factores que o possam ajudar. Contigente?

Subjectivo, por certo, mas toda a avaliação é a afirmação de uma visão subjectiva de um percurso, trabalho. Não nos iludamos. Há, pois, que crer na boa e melhor ligação entre o passado, presente e futuro, para nos dar o conforto de que o avaliador que hoje somos é produto de uma boa avaliação passada e construirá bons avalidores futuros. Do que seja.

Avaliar é determinar valor e nada de mais humano, ergo volúvel, pode existir.

Toda a avaliação é o produto da visão do mundo de quem avalia no confronto da visão do avaliado. Para mim, que procuro uma forma de, ao invés de o superar, sintetizar esse confronto, a avaliação é sempre uma dilaceração interior. Para além de toda as reacções que aí fora possa causar.

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