domingo, 25 de abril de 2004

A Busca continua



Talveza seja o momento de olhar para trás, respirar um pouco, enquanto se contempla o horizonte.



O que pretendo é reflectir sobre alguns dos problemas que a existência me coloca. Neste sentido penso que a filosofia principia por ser passiva. E isso em nada contradiz acreditar numa passagem de Sete Cartas a um Jovem Filósofo de Agostinho da Silva, em que o filósofo, lembra ao destinatário das cartas que este parece pretender viver à maneira de certos místicos, isto é, de acordo com a sua própria filosofia, de acordo com o seu próprio amor ao saber.



Exactamente por me rever tanto nesta simples consideração não posso deixar de pensar que a filosofia é sempre passiva, sempre determina pelo corpo, pelos estímulos. Nada de novo até este ponto: acabei de me afirmar kantiano, à maneira moderna, na linha de Hume e de muitos outros pensadores antes dele, na Idade Média, época clássica, civilizações antigas.



Creio que o corpo delimita e liberta numa mesma passagem. E este será o tema chave de todos os próximos textos, aqui no Límpida. A delimitação, por potenciar o poder, liberta mais. Se de humanidade falamos.



As grandas quimeras da humanidade sempre se encontraram na ilusão de que podemos ser deus. Leia-se Fueurbach ou Noietzsche para o perceber. Ou, de uma perspectiva política, estude o antigo Egipto ou a época imperial da Roma Antiga.



Mesmo que tenhamos criado deus, criamo-lo como algo exterior a nós, contra o que é o humano e não pelo que é humano. Criamo-lo, se o criámos, para que a ele pudessemos chegar. Ou ele até nós. Consoante o tipo e natureza das religiões e seus misticismos.



Antes de chegarmos à Religião e a Política temos a Vida. E aí, parece-me, entre o corpo e o espírito, comecemos pela carne. O que me interessa, enquanto humano, é compreender a forma de estar. E aí parece-me que a primeira das acções humanas é diagnosticar. Só os animais não se pensam, enquanto integrados em algo. Agem e reagem ao meio em que surgem e vivem. Pois bem, o homem inicia a sua humanidade, inaugura-a, parece-me, pensando-se. Mais, fixando-se.



Filhos do século XXI, com milhares de anos de história das ciências naturais, o primeiro diagnóstico surge-nos, hoje, facilitado: a qualquer ser humano contemporâneo está disponível uma vasta Biblioteca e Ensino da Mecânica do Mundo. A Natureza é hoje muito mais compreensível do que alguma vez antes. Graças aos Ptolomeus, Lineus e Darwins do Mundo. Obrigado também Newton e Einstein. E tantos outros.



Mas a revolução opera-se com o diagnóstico sobre o moral. O ser que que quer aperceber do que o rodeia, principia na natureza mas terá, forçosamente, que terminar, no humano. E o humano é complexo - lugar comum - e, assim, tanto mais carente de interpretação.



Hoje termino, pois, com a primeira das questões que penso dever ocupar o espírito humanista. Como estar no mundo sem ser à boleia do mundo?



Questão que nos convoca, além dos óbvios obstáculos naturais - alimentação, abrigo, transporte - as morais questões de sabermos se estamos e podemos estar dependentes de outros seres humanos. Ou se a primeira das libertações é a autonomia dos apetites da carne...





A Busca da Límpida Medida prossegue em breve



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