quarta-feira, 21 de abril de 2004

Ao meu amigo



ao meu amigo abro-lhe as portas de casa. Deixo-o entrar com o sorriso de um reencontro adiado demais. Abraço-o forte mas breve pois tenho pressa de o ver entrar. Olho-o enquanto olha a minha casa. Já passámos por muito. Trocámos países, cidades, lágrimas. Uma e uma só forma de nos libertarmos de um passado doloroso. Hoje abro as portas de casa ao meu amigo. E a minha casa é o meu coração, a minha intimidade despida, a voz que tenho em vez de mim. Bebemos vinho, fumamos os cigarros vindouros, olhamos as imagens da guerrapazfédesesperoamor, ouvimos a música que explode no céu, que se ramifica em azul. Explosions in the sky, Azure Ray. Falamos pouco, desta vez, o silêncio deve ser despido devagar. Para que se entranhe nele a conversa sem que fuja. Mas o acolha. O meu amigo e eu somos detrás, soubemos respeitar o nosso crescimento mútuo, os nossos caminhos próprios. E reconhecemo-nos ainda comuns. Depois há que insistir no abraço, no florir do silêncio em comunhão. Transformar estes desejos em muitas portas abertas, muitas mais do que as desta casa e das dele. Que os nossos encontros futuros sejam sempre amanhãs já: conversas, mensagens ou presenças. Mas partilhas.



Escrevo-te isto, meu amigo, porque gosto de ti. Porque te quero no meu futuro. Quero-te no meu desconhecido. E quero o teu desconhecido. Como uma grande tormenta, de bátegas e sol sonhado. De bonança enfim. E tudo de novo. Quero-te, amigo, como queiras. As portas de minha casa, onde quer que a queiras, estão sempre abertas. E quando aí estivermos estarão sempre fechadas ao que quiseremos preservar e abertas ao que quisermos construir. Continuar...

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