sábado, 10 de janeiro de 2004

Neste preciso momento



Apercebo-me que se não te tenho aqui, comigo, tudo o que tenho, tudo o que sou, são palavras. Nada mais.



É só isso que tenho. Palavras. Eis o que sou se não te tenho aqui, comigo, para as tornar desnecessárias. Para me mostrares que não preciso delas, que não são reais.



És tudo o que todas as palavras combinadas podem significar. Preciso de ti, comigo. Ou sou apenas palavras



Preciso de ti. Pois sem ti sou o vazio ilusório das palavras



Preciso de ti, não como uma necessidade mas como um desejo. De carne. De vontade. De algo de matéria que a terra contém. Tudo o que não são as palavras. Nem podem traduzir. Não se traduz o interior da terra. Como não se traduz o teu interior. E o que se estende para além dele. Que dele emana.



Preciso de ti. Para sentir. Para que as palavras não me traguem e eu me perca por elas.



Preciso de ti pois o teu calor, a tua voz, toda a tua presença - o teu olhar mesmo - são a verdade que todas as palavras podem conter. Eu sei-o. Pois já revirei todas as palavras do mundo em frases, períodos e parágrafos e sempre ficaram áquem de ti. Toda a expressão verbal possível é ainda a imperfeição da tua lonjura. Ausência. Quanto mais me percebo rodeado de palavras mais sinto a tua urgência. Pois elas são frias, vazias, pérfidas. E tu... tu és toda humana, real, sensível. És sensual. Sinto-te muito.



Preciso de ti comigo. Aqui.

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