quinta-feira, 4 de dezembro de 2003

"olha, pá, acho importante que as pessoas sejam simpáticas umas com as outras. Sei lá o que é que eu acho. Sinto muito. Não sei o que achar. Não acho nada."



H. M.



Reductio ad felicitatem



Um dos aspectos que sempre me fascinou no pensamento humano é a sua capacidade para se reinventar em proximidades lógicas, embora paradoxais, apesar dos afastamentos temporais. De Sócrates a Lacan, Deleuze ou Derrida medeiam mais de dois mil anos e no entanto ambos defendem algo que me apraz conciliar. A negação da verdade.



Mas, se em Sócrates a negação da verdade pretende apenas adiá-la a um esplendor maior mediante o caminho da virtude, a percorrer antecipadamente, nos pós-modernistas, modernidade devedora de Sócrates, quer por Kierkegaard, quer por Nietzsche, a verdade não é adiada, é excluída. Não há verdade, há opinião, há verdades. Não há nada. Há o caos. Um pós-existencialismo relativista.



No meio disto tudo importa recuperar a ideia de que é "importante que as pessoas sejas simpáticas umas com as outras" Esta redutio ad felicitatem é interessante na medida em que pode oferecer uma ponte de conciliação entre dois mil anos de pensamento filosófico. Na medida em que a felicidade é, por um lado o farol da virtude (Aristóteles) e por outro, um conceito indeterminado (como o mero cotejo religioso ou ético intemporal nos permite concluir), a redutio ad felicitatem principia socrática para se concluir pós-moderna, numa síntese que apenas poderemos começar a analisar e que inaugura um pensamento paradoxo-paróxico.



Queremo-nos despir, à maneira socrática, de todo o falso conhecimento para nos vestirmos, paulatinamente, de virtude mas fazemo-lo, tendo como convicção prévia, que o ideal de felicidade que nos sustenta é subjectivo, cambiante e sujeito a uma desconstrução revitalizadora.



Só sei que nada sei,



substitui-se por



Só sei que quero a felicidade de que nada sei.







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